O presidente dos Estados Unidos e sua família estão vendendo e promovendo memecoins, trazendo a criptomoeda diretamente para o centro das atenções políticas. Em uma convenção de Bitcoin em Las Vegas, a vice-presidente disse a uma multidão que a cripto agora tem um campeão na Casa Branca. Essa declaração marcou uma nova era em Washington, onde o governo dos EUA está adotando uma abordagem mais amigável em relação aos ativos digitais.
A mudança política não se limita a discursos. Antes de assumir o cargo, o novo presidente da Comissão de Valores Mobiliários (SEC) era investidor e consultor de criptomoedas. O Departamento do Trabalho removeu recentemente seu aviso contra a inclusão de Bitcoin ou outras criptomoedas em carteiras de aposentadoria. Isso significa que os americanos que economizam para a aposentadoria, educação ou uma casa podem já possuir cripto sem perceber.
Muitas contas de aposentadoria incluem fundos de índice que detêm ações de empresas expostas ao Bitcoin. Um exemplo bem conhecido é a empresa anteriormente chamada MicroStrategy, agora simplesmente Strategy. Michael J. Saylor, seu fundador, disse que a reformulação da marca se encaixava melhor na marca, embora a empresa ainda administre um negócio de software em declínio. A verdadeira história são suas grandes participações em Bitcoin, que constituem a maior parte de seu valor. Investidores em fundos amplos estão indiretamente expostos a essa aposta na moeda digital.
Outras grandes empresas seguiram o exemplo. A Coinbase, a maior exchange de cripto dos EUA, entrou para o S&P 500, dando aos investidores tradicionais exposição automática. A Tesla, liderada por Elon Musk, possui mais de US$ 1 bilhão em Bitcoin. As ações dessas empresas com grande participação em Bitcoin geralmente são negociadas a preços mais altos do que seus ativos digitais reais, mostrando o quão grande é o entusiasmo em torno delas. Mas quando o Bitcoin cai, as perdas também atingem os investidores.
A Comissão de Valores Mobiliários permitiu que fundos negociados em bolsa (ETFs) detivessem Bitcoin diretamente. Isso dá aos investidores e instituições uma maneira de comprar Bitcoin sem gerenciar carteiras ou chaves privadas. Em abril, havia mais de 90 desses fundos, de acordo com o ETF.com. O iShares Bitcoin Trust da BlackRock é o maior, com mais de US$ 72 bilhões em Bitcoin. Em maio, ficou em terceiro lugar em todos os ETFs em termos de entradas de caixa, atrás apenas do S&P 500 ETF da Vanguard e do QQQ da Invesco, que rastreia o Nasdaq 100. A BlackRock também começou a adicionar pequenas quantidades desse fundo Bitcoin em suas carteiras como um ativo alternativo para ajudar na diversificação.
A cripto também está se espalhando em outras direções. A Circle Internet, a empresa por trás da stablecoin USDC, lançou suas ações em 5 de junho e rapidamente atingiu uma avaliação de mais de US$ 25 bilhões. As stablecoins como o USDC são lastreadas em dólares americanos e comercializadas como formas mais seguras de movimentar dinheiro fora do sistema bancário tradicional. A World Liberty Financial, uma empresa parcialmente pertencente à família Trump, também está investindo em stablecoins. O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse recentemente ao Senado que os mercados de stablecoins lastreados em títulos do Tesouro dos EUA poderiam crescer para US$ 2 trilhões ou mais. Ele disse que esse era um número razoável e possivelmente até conservador.
Essa escala colocaria as stablecoins no centro das finanças globais, levantando questões sobre regulamentação e supervisão. Os defensores argumentam que tornam os pagamentos mais rápidos e baratos. Os críticos alertam que, sem regras estritas, eles podem colocar o sistema financeiro em risco.
Apesar do entusiasmo, o ceticismo permanece. Geoff Kendrick, chefe global de ativos digitais da Standard Chartered em Londres, estudou o Bitcoin em carteiras. Ele descobriu que alocar um ou dois por cento de uma carteira diversificada para o Bitcoin melhorava os retornos e reduzia a volatilidade. Ele observou que o Bitcoin geralmente se move independentemente do mercado de ações, especialmente durante o estresse financeiro, como o colapso do Silicon Valley Bank em 2023. Ainda assim, ele e outros alertam que a alocação deve permanecer pequena.
O Bitcoin teve altos e baixos dramáticos. Seu preço caiu em 2022, arrastando stablecoins junto, mas desde então aumentou. Ao longo de dois anos, o Bitcoin aumentou cerca de 265 por cento, em comparação com 39 por cento para o S&P 500. Os defensores argumentam que esse crescimento vem do aumento da demanda, enquanto a oferta cresce apenas conforme projetado por seu código. Os céticos dizem que ainda carece de valor intrínseco, ao contrário de ações ou títulos, e é negociado mais como commodities como ouro ou petróleo.
Por enquanto, a maioria dos especialistas concorda que pequenas doses de criptomoeda podem se encaixar em carteiras diversificadas. Harry Markowitz, o vencedor do Prêmio Nobel que criou a teoria moderna do portfólio, chamou a diversificação de o único almoço grátis no investimento. Essa ideia está orientando como os fundos incluem Bitcoin, Ethereum e stablecoins hoje.
Mas se os mercados privados de criptomoedas crescerem para trilhões de dólares, o impacto será muito maior. Carteiras de aposentadoria, fundos mútuos e ETFs seriam vinculados a ativos que ainda carecem de regras claras. Líderes políticos, do presidente ao secretário do Tesouro, estão sinalizando forte apoio, enquanto empresas de BlackRock a Tesla continuam a comprar. Se esse apoio protege os investidores ou leva a novos riscos é uma questão que ainda não foi respondida.
O que está claro é que a criptomoeda foi muito além de amadores e early adopters. Agora está dentro de fundos de aposentadoria, carteiras de índice e o S&P 500. O governo dos EUA não está mais tratando isso como uma questão secundária. Em vez disso, está moldando como os americanos economizam, investem e planejam para o futuro, quer saibam ou não.